domingo, 7 de fevereiro de 2010

Livros com livros dentro, no regresso às missas

De sua graça, Leonardo Padura, nascido em Cuba - jornalista e autor de livros. Para biografia basta. Do homem, que não conhecia em edição nacional, tinha ouvido falar da sua prática de "problematização da realidade cubana".

Quanto ao livro, "A neblina do passado", encontrei-o aí, numa livraria que não sei identificar; é este que aqui me traz, no regresso a esta espécie de desobriga que me traz, de tempos a tempos, perante Vossas Senhorias.

O homem é de Havana, cidade onde decorrem os actos, centrados em Mario Conde, um ex-polícia, num enredo de conto policial, com mortos e feridos, cantoras de boleros e bailarinas com nomes de Flor de Lotus, Violeta del Río, já desaparecidas ou simplesmente retiradas dos cabarés do tempo de Fulgencio Batista, um 45 r.p.m. e - podia lá deixar de ser - um enigma.

E livros! Uma biblioteca de outro tempo, do outro mundo, a abarrotar de coisas boas - raridades que ele põe a desfilar à nossa frente, à medida que os vai tirando de uma biblioteca privada, inviolada há muitas dezenas de anos, em venda, propriedade de um casal de irmãos com segredos escondidos e estômagos um tanto maltratados pela crise. O êxtase que o homem, o ex-polícia, experimenta ao mexer naquelas raridades bibliográficas passa para o lado de cá, para o leitor, provocando aquela sensação boa de estar lá a ver tudo e a sentir o que ele sente. Abençoado Padura, que, pelo caminho, também nos dá a ver aquele Chevrolet de 1956, modelo Bel Air, conduzido por Yoyi, o Pombo, também conhecido lá na terra por Paco Chevrolet; e Havana, na sua nostalgia, nas suas glórias e misérias.

Dois títulos, para exemplo, dos responsáveis pelo êxtase: uma edição original do "Cândido", de Voltaire, ou uma primeira da "Historia mundial da infâmia", de Borges. Ou, mais ainda, "O livro dos peixes" e "Los ingenios", ditos "os dois livros mais valiosos que se imprimiram em Cuba", para valerem, por baixo, ao tempo, no mercado local, umas dezenas de milhares de dólares.

Por mim, estou a 9 páginas do fim do livro. Vou ficar por aqui, até ver, com a leitura suspensa, para prolongar o prazer da coisa.

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