segunda-feira, 13 de julho de 2009

A minha primeira e as outras

Entrou na loja, com o ar do costume, nestas ocasiões. "Aquela!", pediu, apontando-a. Tomou-lhe o peso, aninhou-a na mão direita e depois tirou-lhe a tampa, olhando-lhe o aparo em várias posições, sem pressas, como num acto íntimo. "É uma 'Insignia' , não é? ", disse timidamente e ficou-se de novo a olhar para ela. Confirmou o preço, pôs-lhe a tampa e devolveu-a ao velho senhor empregado - ainda não era desta que a levava.
Esta, uma Parker Insignia, que também existe com um banho em ouro de 23 quilates, é a caneta que ele sempre quis ter, mas nunca a comprou. Nem é pelo preço - já comprou outras muito mais caras. Só que esta, a do desenho xadrez em prata, baseado numa caixa de rapé inglesa do séc. XVII, sente-a como o ideal que se persegue, sem nunca a conseguir alcançar, transformada no objectivo de sempre.
Escrever com caneta de tinta permanente é outra coisa. É um gosto que cada um se pode dar. E que gosto!
A minha primeira foi uma outra Parker, mais modesta, recebida de oferta. Velhinha, amada e bem tratada, continuamos juntos. Houve depois, assim de memória, a Pelikan lacada a preto, a Waterman azul, uma Pilot prateada de aparo integrado, e duas Parker Duofold - a dos 50, em uso corrente, e a oferecida por amigos dois anos atrás, ainda por estrear.

Noutro tempo, as mães mais empenhadas e conscientes da transcendência que era os seus rebentos fazerem o exame do 2º grau (a 4ª classe), em mundos onde o saber ler e escrever era passaporte para uma vida melhor, compravam-lhes uma caneta, equipando, assim, os meninos para as exigências e a distinção do acto. Num desses propósitos vi eu um galfarro, lavado em lágrimas e em ânsias de morte. Uma lástima, na sua estreia como 'escrevente' com caneta de tinta. Essa, comprara-a a mãe, na véspera, na mercearia do senhor Lobato, na Rapoula do Côa. Mais valia que estivesse quieta. Há coisas que não se podem comprar na nossa mercearia de confiança.
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Sopa de letras

Ingredientes
Água, cebola e batatas q.b.
Um pacote de massa de letras
Um chisco de azeite

Confecção ao gosto. Como resultado pretende-se uma sopa que, enquanto se come, dê para formar palavras e frases na borda do prato.