domingo, 28 de junho de 2009

Pelo cheiro é que vamos (e com Juliana)

O acto de encher o depósito de uma caneta de tinta permanente tem o fascínio da alquimia, disse o homem. Que continuou, como se explicasse: tira-se a tampa da caneta, puxa-se o êmbolo até ao fundo, mergulha-se o aparo no tinteiro e então roda-se a pirueta ligada ao êmbolo para o lado direito, entre os dedos polegar e indicador, até prender. Então, para o depósito não ficar demasiado cheio, roda-se um pouco em sentido contrário, até cair um pingo de tinta no tinteiro, e de novo, no sentido contrário, até prender. Com um lenço de papel, ou um trapo, limpa-se cuidadosamente a parte da caneta que mergulhou no tinteiro e a caneta está, de novo, pronta para funções escreventes.
Incapaz de desligar o circuito da atenção, acompanhei o homem numa curiosa incursão em terrenos tecnologicamente mais evoluídos: Há uns tempos - prosseguiu ele - inventaram as recargas para canetas, uma tecnologia limpa, que não suja as mãos, fundada no princípio do usa/deita fora. Também tenho canetas desta geração tecnológica, que, no entanto, devolvi à pureza dos princípios - arranjei uma seringa e, quando a recarga está vazia, encho-a no velho tinteiro e com ela recarrego a recarga. Por razões que eu cá sei, concluiu.
Certo é que o homem se delicia naquele acto, tão simples, mas pelos vistos de tamanha transcendência para ele. Assegura quem assistiu ao acto, como eu assisti, que o simplório o faz, não por sovinice extrema, ou instinto primário de poupança, mas por razões existenciais - o prazer do tacto na preparação do instrumental de escrever, o gosto de ver a mancha de tinta a espalhar-se no papel ou no pano com que se limpa a caneta (que, tantas vezes, pinta de azul os dedos das mãos); mas também, por causa do cheiro da tinta, que o uso (adequado, corrente) das recargas impede de se manifestar. Sem esses preliminares, creio-o incapaz de escrever coisa que se leia.

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Sopa Juliana

Ingredientes:
3 batatas médias
3 cebolas
3 cenouras
2 cabeças de nabo
1 beterraba
1/2 couve
2 ramas de aipo
água q.b.
orégãos q.b.
azeite q.b.
sal q.b.

Cortar os legumes em juliana (às tiras fininhas).
Enquanto isso, ponha a água ao lume, numa panela, até ferver.
Deite os legumes na água a ferver, deixando cozer em lume branco, durante 20 minutos, até os legumes estarem cozidos e o caldo relativamente espesso.
Retire do lume, acrescentando então os orégãos, o sal e um fio de azeite.