domingo, 2 de agosto de 2009

Ler com direitos

Um enormíssimo prazer, é o que é a prática da leitura. Abrir mansamente o livro, numa página ao calha, e ler um parágrafo, como quem não quer a coisa, e depois deixar-se levar por ali adiante, sem esforço, nem resistência, virar a página e continuar, já esquecido de onde se está... e continuar por aí fora. Pode ser numa livraria, numa biblioteca, onde calha o livro apanhar-nos, como de surpresa, e nós deixarmos que ele tome conta de nós. É bom, sim senhora!
Mas, nem sempre é assim. Às vezes o leitor e o livro não se entendem, a corrente do prazer não se estabelece, e pronto - é deixar estar; pode ser que noutra altura aconteça, se a oportunidade se deparar. É frequente acabar assim a minha relação com um livro específico; paciência, minha amiga. Pior, quando esse acto se repete com o mesmo autor, e por essa via se arruma este no arquivo dos que não nos despertam curiosidade. Nuns casos, não se perde grande coisa; noutros, sim - mas (à falta de melhor remate), é a vida.
Todos temos uns tantos autores a que achamos menos graça. Alguns, gente premiada e publicamente reconhecida como "grandes da escrita", o que, para certas companhias, não é a melhor carta de apresentação. "É lá possível que V. não goste do F. De nenhum dos livros dele? E gostar do Z., que está a milhas de F." Dito desta maneira, por aquela pessoa, chega a ser um calafrio de todo o tamanho, uma certidão de óbito ao mais honrado e humilde dos leitores, que não consegue deleitar-se com Eça, mas aprecia o Camilo todo, que não consegue entender-se com Agustina, mas é um honesto leitor de Cardoso Pires, que tem pudor em dizer que salta páginas inteiras de romances consagrados ou que, uns tantos, os deixou a meio.
Liberte-se o homem - e quantos como ele - pela celebração do prazer da leitura. Que é pessoal e um direito: cada um lê o que lhe apetece, sem ser obrigado a nada. Se salta umas páginas ou passa ao lado de autores "indiscutíveis", é lá com ele. E, de caminho, acabe-se lá com a peninha e a compaixão por quem não lê.
Não ler é um direito - o primeiro dos 10 direitos inalienáveis do leitor, no inventário composto por Daniel Pennac (original da Gallimard, em 1992) - a que se seguem o direito de saltar páginas, o direito de não acabar um livro, o direito de reler, o direito de ler não importa o quê, o direito de amar os "heróis" dos romances, o direito de ler não importa onde, o direito de saltar de livro em livro, o direito de ler em voz alta e o direito de não falar do que se leu.
Para conferir, "Como um romance", edição da Asa Editores, em 1993, na colecção "Pequenos prazeres", com mais 12 edições - ou reimpressões - até 2001.

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SOPA DE TOMATE

Ingredientes:
8 batatas
5 tomates médios, maduros
1 cebola
1 ovo
sal e azeite, q.b.

Cozem-se as batatas, os tomates e a cebola, em água temperada de sal, numa panela.
Retiram-se, passam-se pelo passe-vite e juntam-se à água.
Bate-se um ovo, em separado, e junta-se ao caldo.
Verte-se um fio de azeite e, mexendo sempre, dá-se uma fervura e apaga-se.

Bom apetite.