domingo, 5 de abril de 2009

Azul ou vermelho, as cores da escrita, e depois a sopa de favas

A escola era ali na Praça, o centro do mundo conhecido, que a distância ainda estava por descobrir e o infinito do céu terminava, afinal, no recorte ondulado dos cabeços e vales da serra em volta.

Ela sentava-se à secretária; atrás, na parede, os dois presidentes - à direita, o do Conselho; o da República do outro lado, um Cristo crucificado entre ambos. E ela escrevia, numa letra notável, cheia, redonda, de uma regularidade impressionante. Que espanto vê-la a escrever, a caneta preta e verde feita pincel de artista, o traço rigoroso, mas fluente, lançando ao papel palavras azuis, pontos, vírgulas e outros sinais.

Que escreveria ela, a professora, tão compenetrada e séria, convertendo o acto num exercício de enorme gravidade? Quando escrevia, ela não estava ali; era como se tivesse entrado em outra dimensão, numa imaterialidade sem tempo, imune à devassa de uns olhitos deslumbrados (seriam os únicos?) numa carteira da fila da frente. De vez em quando parecia despertar e, numa meia ausência, passava o olhar pela sala e repreendia algum, se necessário; ao dos olhitos, perguntava: "Então, não fazes o teu desenho?" E ele submetia-se, momentaneamente, para, logo depois, voltar ao mesmo. E isto haveria de se repetir, uma e outra vez, até ela dar a obra por acabada, numa profusão de azul cosida ao branco do papel.

O traço, ao meu pai, saía-lhe visivelmente mais espesso, tanto na pedra, como na madeira. O lápis grosso afiava-o com a navalha. Gostava de lhe ver o encarnado na orelha (o azul, nem tanto), como em tempos vira ao senhor Fernandito, mestre carpinteiro de tectos e soalhos, o número um na armação do forro de uma casa. Ainda estava para nascer outro igual. O primo Clemente até podia sê-lo, não fora o estrago que nele fazia o vinho, e, pior, nunca se lhe viu um lápis na orelha, sequer na mão - riscos, se era preciso serrar direito, fazia-os com um prego. Uma heresia!
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SOPA DE FAVAS

Ingredientes:

1 kg de favas
1 cebola
3 colheres de sopa de azeite
50 g de arroz
Sal q.b.

Leva-se uma panela ao lume com o azeite e a cebola picada, deixando refogar.
Junta-se a água necessária e as favas descascadas e lavadas.
Tempera-se com sal e deixa-se cozer.
Finalmente, deita-se o arroz, deixando acabar de cozer.